Voltemos um pouco no tempo. Mais especificamente, 10 anos atrás, ou seja, 2009. Naquela época, quando acontecia um acidente de trânsito, o perfil da vítima não era detalhado. Era algo superficial, como citar apenas condutor de veículo automotor ou, em casos mais específicos, motorista de caminhão. E quando um motociclista morria na estrada? Ele também entrava na estatística como condutor de veículo automotor, o que impossibilitava reunir dados mais precisos sobre quem estava perdendo a vida no asfalto. Outro detalhe é que há uma década essa vítima estava na faixa etária de 35 a 40 anos.
O que percebemos é que ao longo dos anos o cenário mudou – e muito! A grande quantidade de mortes no trânsito passou a ser, em boa parte, com os vulneráveis do trânsito, ou seja, motociclistas, ciclistas e pedestres.
“Esses três usuários já correspondem a mais de 50% das mortes e isso nos preocupa muito! Só os motociclistas representam de 40 a 45%. Se formos somar ciclistas e pedestres, esse número chega a 65%”, explicou o Consultor de Trânsito da Fetransportes, André Cerqueira, completando em seguida.
“Em 2018, as mortes envolvendo pedestres representavam em torno de 10% e este ano está na faixa dos 20% do total de óbitos. Isso deixa claro que além dos ‘personas’ terem mudado, a idade deles também muda. Agora, as maiores vítimas passam a ser os mais jovens, entre 15 e 25 anos. E, no outro extremo, estão pessoas acima de 60 anos”.
Esses e outros dados estão contidos num estudo inédito sobre trânsito capixaba lançado pela Fetransportes. O levantamento traz um conjunto de estatísticas e análises que foram desenvolvidas por diversos órgãos públicos e privados que trabalham na organização do trânsito, na melhoria da mobilidade das pessoas e na estruturação da segurança viária. O material apresenta um histórico de informações das rodovias federais, estaduais e vias municipais nos últimos 10 anos, faz uma análise do cenário atual, exibe projeções para os próximos anos e define o perfil das vítimas de trânsito.
Para montar o levantamento, a equipe da Fetransportes contou com dados das seguintes fontes: Detran-ES, Polícia Rodoviária Federal, secretaria de Estado da Segurança Pública e Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, dentre outras entidades relacionadas ao trânsito. O estudo vai destacar, ainda, iniciativas como as das prefeituras de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Linhares e Nova Venécia.
O trabalho foca no comportamento do trânsito no Espírito Santo, mas também reúne informações do cenário nacional e internacional, citando exemplos de benchmarking e dando um aperitivo do que os países referência no assunto fizeram de positivo para reduzir o número de mortes.
Na opinião do Consultor de Trânsito da Fetransportes, André Cerqueira, que também colaborou no estudo, o estudo promete gerar uma literatura técnico-científica mais robusta na área do trânsito, assunto que ele defende como altamente relevante e com impacto gigantesco na sociedade. Afinal, em vários municípios capixabas, a taxa de mortes no trânsito supera a taxa de homicídios.