Tragédia na BR 101: imprudência comprovada

Motorista da carreta havia usado cocaína e arrebite

A perícia da Polícia Civil constatou que o motorista do caminhão que se envolveu no maior acidente de trânsito da história do Espírito Santo utilizou arrebite e cocaína antes da tragédia. O acidente envolveu a carreta, um ônibus e duas ambulâncias, na BR 101, em Guarapari, no dia 22 de junho, deixando 23 mortos.

Segundo o perito responsável pelo exame toxicológico, Rafael Barcellos Bazzarella, a presença de benzoilecgonina, que é uma substância metabolizada pelo organismo após o uso de cocaína, indica que o motorista Nadson Santos Silva, de 30 anos, usou a droga em um intervalo de 12 horas ou mais do acidente. Portanto, o perito afirmou que o condutor não estava sob efeito do entorpecente no momento do acidente.

Os exames feitos a partir do sangue e da urina do motorista apontaram, também, a presença de anfetamina, que é uma substância metabolizada pelo organismo com o uso de femproporex, que também foi identificado no exame. “É um medicamento utilizado para emagrecimento e inibição do apetite, mas também muito usado por motoristas profissionais para reduzir o sono, fazer com que o motorista permaneça acordado por mais tempo ao volante. Foi um uso recente. Então, ele estava, realmente, sob o efeito do arrebite”, disse.

Segundo o delegado da Delegacia de Delitos de Trânsito, Alberto Roque, a Polícia Civil quer saber se outros funcionários da empresa transportadora também usa arrebite para dirigir. “Já foi solicitado, junto ao INSS, a relação de funcionários e ex-funcionários da empresa, principalmente motoristas, para ouvi-los e encaminha-os à perícia toxicológica para saber se uso dessas substância é algo recorrente entre todos os motoristas”, revelou.

A Polícia Civil também concluiu que o veículo teve suas características originais alteradas, segundo o perito Marcus Bhering Bragança. “Não era um caminhão, inicialmente, com aquela configuração. Ele teve o chassi do cavalo alongado. Existiam pontos de solda e metais que foram soldados para tal dimensionamento. Ele também não era um caminhão de transporte de pedras. O sistema hidráulico era para outro tipo de serviço”, explicou.

Além disso, o perito afirmou que os pneus estavam em más condições, que houve alterações no reboque para suportar mais carga ou porque os tambores estavam em más condições, e que grande parte dos freios do reboque não funcionavam. Tudo isso, aliado ao excesso de carga, à condição da pista e à velocidade motivou o acidente.

Para o delegado Alberto Roque, as más condições de trabalho do motorista e o estado de conservação do caminhão confirmam que o dono da empresa transportadora teve responsabilidade no acidente. O delegado fala em negligência muito forte e total desprezo à vida humana.

Quatro vítimas do acidente, que eram passageiros do ônibus, foram ouvidas e já fizeram uma representação criminal contra Jacymar Pretti, de 63 anos, dono da empresa Jamarle Transportes, responsável pelo caminhão que transportava o bloco de granito.