Infraestrutura, logística e modelos de gestão

Os temas foram amplamente debatidos no ES Debate

 

Passado, presente, futuro, gargalos, potencialidades e desafios do Estado foram temas amplamente discutidos no primeiro ES Brasil Debate de 2017, realizado na noite desta quarta-feira, 3 de maio, no auditório da Findes, em Vitória, e que jogou luz num tema que influencia cada vez mais a economia de países, estados e municípios: a estrutura logística. O evento reuniu cerca de 250 pessoas, entre autoridades, empresários, estudantes e representantes de governos municipal, estadual e federal. Todos bastante interessados nas informações levadas pelos debatedores, o secretário de Estado de Desenvolvimento (Sedes), José Eduardo Azevedo, o presidente do Transcares) e diretor-administrativo da Fetransportes, Liemar Pretti, o superintendente da Infraero no Espírito Santo, Afrânio Souza Mar, e a economista, consultora de negócios e professora de MBA, Martha Ferreira. O mediador foi o presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar), Waldemar Rocha Júnior.

Esta foi a 15ª edição do evento, e além de nove perguntas levantadas pela própria produção, envolvendo os modais rodoviário, portuário, aeroviário e ferroviário, o debate incluiu alguns questionamentos feitos pelo público, que, interessado na relevância do que estava sendo dito, não esvaziou o auditório. Por volta das 22 horas, horário de encerramento, o local continua cheio como no início.

Como é normal em qualquer evento desta natureza, onde a unanimidade de opiniões não reina, os debatedores discordaram sobre a forma e o peso da atuação dos governos na estruturação de grandes obras e integração dos modais. Por outro lado, os quatro foram unânimes em defender a necessidade de gestões mais eficientes e eficazes, que possibilitem o emprego correto de recursos e do tempo para que as melhorias na infraestrutura e na logística sejam concretizadas.

Confira abaixo um pouco do que foi abordado e discutido durante o ES Debate – Os Novos Caminhos da Logística do Espírito Santo.

– Melhorias concretas na logística nos últimos 30 anos

A economista Martha Ferreira apontou que “em relação aos países desenvolvidos, estamos atrasados 200 anos, e em relação aos estados brasileiros mais desenvolvidos, como São Paulo, por exemplo, estamos atrasados uns 50 anos”.

Ao comentar a resposta de Martha, José Eduardo destacou que os problemas relacionados à infraestrutura e logística não são um privilégio do Espírito Santo, mas de todo o Brasil, reconheceu a agenda atrasada do País, garantiu que o Estado deu passos importantes nos últimos anos e também faz parte do time que vê a  necessidade de políticas públicas que possam captar mais recursos e também garantir melhor fiscalização das verbas.

– Rodovias

As más condições das rodovias que cortam o Espírito Santo e o alto custo do transporte foram pontos citados por Pretti, outro a destacar a necessidade de melhores políticas públicas e a urgente necessidade de integração dos modais.

E ele ressaltou, ainda, que caso as rodovias estivesses em melhores condições, tal custo poderia ser reduzido em até 25%. “O que temos, hoje, são rodovias medievais e caminhões altamente tecnológicos”, comparou o dirigente, que não deixou de fazer críticas ao setor privado. “Em muitos casos temos sido incompetentes em nossa forma de nos organizar e alavancar melhorias”.

Portos

Outra pergunta do debate dizia respeito à dragagem do Porto de Vitória. E embora seja fato que as possibilidades geradas com a partir dela não serão capazes de resolver o problema da falta de bacia de evolução que permita a entrada dos grandes navios do cenário mundial, o mediador Waldemar Rocha, que atua em Agência Marítima há 40 anos, argumentou que existem muitas novas formas de utilizar o porto.

O secretário de Desenvolvido concordou com Rocha, com relação ao fato da dragagem não resolver o problema, mas garantiu que ela proporcionará um salto de qualidade à operação, reduzindo custo e melhorando sua competitividade.

Ainda tratando de portos, mais precisamente da construção do Porto Central, em Presidente Kennedy, para a economia capixaba, foi questionada a demanda de cargas e o que será feito para que a megaestrutura do empreendimento seja aproveitada da forma correta.

Martha Ferreira destacou que certamente o envolvimento de um grupo como o de Roterdã no projeto significa que ele será bem gerido, mas alertou. “Teremos cargas, teremos clientes para ocupar uma estrutura como a que se pretende viabilizar em Presidente Kennedy?”

Ela destacou, ainda, que as cinco maiores empresas do Estado, que garantem cerca de 100 mil empregos, executam quase 90% das exportações capixabas por terminais privados e não dependem, portanto, do governo para nenhuma de suas atividades. “É preciso focar no trabalho nos médio e pequenos empresários, que garantem dois milhões de empregos. É para eles que os governos precisam viabilizar melhorias logísticas”, disse.

Confiante no sucesso do projeto, que possibilitará a integração modal, José Eduardo defendeu que o Porto Central é um projeto de maturação em longo prazo “e uma conexão definitiva que abrirá as portas do Espírito Santo para o Brasil e para o mundo”.

Aeroporto

As obras de ampliação do Aeroporto de Vitória serão suficientes para torná-lo competitivo no cenário nacional e internacional ou não? Segundo o superintendente da Infraero no Espírito Santo, Afrânio Souza Mar, as melhorias de resultados com a nova estrutura serão reais e atualmente, mesmo com a estrutura defasada, o aeroporto é, sim, competitivo. “Ocupamos a 10ª posição no Brasil em número de voos comerciais e 6º lugar no ranking do transporte de passageiros, além de ser o principal aeroporto no seguimento de importação”, relatou, garantindo que a nova infraestrutura vai trazer comodidade ao capixaba e movimentará a economia. “Vai melhorar em termos de turismo, além de ter a possibilidade de voos internacionais”.

 

Durante o debate, o executivo disse, ainda, que o que a equipe mais procura  neste momento é demanda. “Estamos buscando demandas. Não só de voos domésticos como comerciais. O aeroporto que será entregue vai triplicar a demanda existente, reduzindo o gargalo atual e aumentando a quantidade de cargas transportadas com uma estrutura eficiente”.

Ferrovias

A utilização de linhas férreas para escoamento da produção do interior para os portos reduz os custos logísticos em até 50%. A estrada de Ferro Vitória a Minas responde por 40% da carga ferroviária do país, transporta mais de 110 milhões de toneladas por ano, mas representa menos de 5% da malha nacional.

José Eduardo falou sobre o trabalho de captação de recursos que vem sendo feito junto ao governo federal para a construção das estradas de ferro EF-118 (Vila Velha ao Rio de Janeiro) e EF-354 (Campos a Goiás), que irão representar significativo avanço na possibilidade de conquistas de novas cargas/mercados.

“O modal ferroviário é importantíssimo, pois em outros países o transporte de carga é de milha. Gostaríamos que estivéssemos em uma plataforma única, reduzindo o custo. O modal ferroviário é importante. É caro para ser implantado, mas tem um custo menor e favorece muito mais por tirar muitos veículos da malha ferroviária”, acrescentou Liemar Pretti.

Segundo ele, um dos maiores problemas mo modal são as duas bitolas existentes nas ferrovias capixabas. Ou seja, as malhas não se unem. “Isso começou errado há anos e vai demorar para ser consertada. Temos que desbravar muito para conseguirmos essa estrutura de forma correta”, pontuou o presidente do Transcares.

Burocracia

Ao comentar uma pergunta, direcionada ao superintende da Infraero, que dizia respeito à demora na liberação de mercadorias nos aeroportos e de como anda esse processo em Vitória, Pretti destacou o eterno problema da burocracia. “O maior problema do País é a burocracia, que trava o País em situações que exigem velocidade. Vivemos sob uma legislação atrasada onde nada anda”.

E o mediador Waldemar completou. “O excesso de burocracia no Brasil está entre os gargalos que precisam ser resolvidos”.

PPPs

A pergunta sobre o que falta para que os governos consigam firmar as PPPs necessárias para efetivar melhorias incendiou o debate. Martha defendeu um novo modelo de investimento, com o Estado participando somente como fiscalizador. Ela citou como exemplo os Estados Unidos, onde a construção de um grande shopping é concluída em seis meses. Segundo ela, as grandes obras, coordenadas por investidores, bancos e seguradoras, não permitem a corrupção que tem destruído o País. Neste momento, a debatedora foi muito aplaudida pelo público.

Outro momento de Martha que contou com a intervenção da plateia foi quando falou sobre os investimentos de infraestrutura iniciados e concluídos nos últimos quatro anos. Direta, ela disse o seguinte: “A duplicação da 101 não vai resolver o problema, a ampliação do Porto também não, pois não existe integração. Se quisermos consolidar uma logística que nos dê boas condições, precisamos integrar o que temos, fazer bom uso do que temos. E isso não é feito”.

Fonte: Assessoria de Comunicação Transcares e site ES Brasil