Trânsito cidadão exige mudança de comportamento

Mensagem foi deixada no seminário da Fetransportes

 

A Fetransportes reuniu Detran-ES, Polícia Rodoviária Federal, Eco-101, o médico Sérgio Barros, o engenheiro Paulo César Gottlieb e Tibério Pereira, da Raízen Combustíveis para debater sobre acidentes de trânsito e, juntos, buscarem soluções para mudar uma realidade cujos números são preocupantes – somente no Espírito Santo, cerca de 45 mil acidentes acontecem por ano, nas rodovias federais, estaduais e vias municipais. Mas apesar da força-tarefa, uma coisa ficou clara durante o 1º Seminário de Segurança de Trânsito, realizado nesta quinta, 10 de maio, em Vitória. Não vão adiantar ações e compromisso dos setores público e privado se não houver  mudança de comportamento de cada motorista, pedestre, motociclista, ciclista, afinal, como diz a campanha do Maio Amarelo, “nós somos o trânsito”.

O evento reuniu cerca de 90 pessoas, no auditório do Setpes e foi aberto pelo presidente da Fetransportes, Jerson Picoli, que falou sobre o objetivo principal do seminário. “Estamos aqui com um único objetivo, o de salvar vidas! Estamos diante do desafio de conseguir reduzir o número de acidentes de trânsito. E não importa que sejamos líderes, gestores, empresários, um simples condutor ou mesmo um pedestre. Cada um de nós tem sua parcela de responsabilidade, pois fazemos parte de um grande ecossistema de transporte e mobilidade”, argumentou.

Diretora-técnica do Detran-ES, Edna Poleto, abriu a série de palestras temáticas com um Diagnóstico Situacional dos Acidentes nas Rodovias Capixabas. E falou sobre a expectativa com o evento, sobre a necessidade da união de forças e, sobretudo, da mudança de atitude de cada ator envolvido no trânsito. “Segurança no trânsito está caminhando para caso de saúde pública”, destacou ela, antes de divulgar números um tanto alarmantes

De acordo com Edna, no Brasil, os acidentes de trânsito são a segunda maior causa de morte não natural evitável; de cada quatro pessoas que perdem suas vidas nas estradas, três são homens; e 50% das vítimas são motociclistas, pedestres e ciclistas.  Outro dado que ela levou para sua apresentação teve como fonte a Pesquisa CNT de Rodovias 2017. O estudo percorreu 105.814 quilômetros de rodovias asfaltadas em todo o País e o resultado mostrou que a infraestrutura rodoviária brasileira tem características que comprometem significativamente a segurança dos usuários.

Mudança de atitudes

Sem medo de se tornar repetitivo, o superintendente regional da PRF-ES, Willys Lyra, iniciou sua palestra, “Ações de Fiscalização e Educação no Trânsito”, repetindo algo que Edna acabara de falar: da necessidade urgente de impulsionar a mudança de atitude dos entes que compõem o trânsito. “A tragédia é causada quando as pessoas insistem em burlar a lei”, resumiu ele, chamando a atenção para um detalhe que, em via de regra, não agrada aos motoristas: as câmeras. “Só que elas são um instrumento para dar segurança”, ressalta.

Ele destacou o Cinema Rodoviário, que alia apresentação de palestras de curta duração e orientações de trânsito por meio de vídeos educativos, e o Festival Estudantil Temático de Trânsito (Fetran), projeto de educação para o trânsito que visa a inserção do trânsito no cotidiano escolar, e as fiscalizações de alcoolemia, velocidade, a motocicletas, de ultrapassagem e de uso de cadeirinha como algumas das principais ações desenvolvidas pelo órgão, e também citou a tecnologia como uma importante vertente.

“Quando o trabalho é aprimorado, o resultado é satisfatório. Por isso estamos investindo em tecnologia. A sociedade está precisando, cada vez mais, de rapidez e agilidade. E nós estamos fazendo nossa parte para entregar isso a ela”, contou Lyra, que mostrou fotos da central de videomonitoramento que está sendo montada para deixar o trabalho da PRF-ES mais dinâmico.

Depois da palestra da PRF, foi a vez da ECO-101. O Gerente de Comunicação, Marcos Martins, e o Gerente de Atendimento ao Usuário, Christian Tanimoto, levaram ao público as “Ações Preventivas em Segurança de Trânsito” que a concessionária da BR 101 está desenvolvendo e aproveitaram para garantir “que a BR está de cara nova, que já existem mudanças e que essas mudanças refletem no número de acidentes na rodovia”.

Segundo Marcos Martins, desde novembro de 2013, quando foi iniciada a prestação de serviços, já houve, dentre outros investimentos, a recuperação estrutural de 300 km de pavimento, conclusão de mais de 200 km de nivelamento entre pista e acostamento, revitalização da sinalização horizontal e vertical de todo o trecho concedido, e intervenções em 15 km de vias locais, em Fundão, Serra, Viana, Pedro Canário, Sooretama, Aracruz e João Neiva. Outra obra em andamento são os oito quilômetros do Contorno de Iconha.

E neste mesmo período, de acordo com Tanimoto, houve redução de 34% no número de acidentes e de 37% no número de mortes. “O grande problema que temos visto é que ao mesmo tempo em que os acidentes estão caindo, a gravidade deles está aumentando. E isso, claro, não é bom”, admite Tanimoto, completando em seguida. “Com a rodovia mais sinalizada, o usuária fica mais confiante e aí acontecem as irregularidades”.

Por falar em irregularidades, ele disse que a Eco-101 está trabalhando em parceria com o Ipem, PRF-ES e ANTT para minimizar as irregularidades – excesso de peso e evasão de pedágio, dentre outras – que são flagradas na rodovia.

Dormir bem

A parte da tarde do seminário foi aberta com o doutor Sérgio Barros. Pesquisador Estrangeiro do Serviço de Sono e Vigília do Hospital Hotel Dieu, em Paris, e coordenador-médico do programa Medicina do Sono, desenvolvido há anos com sucesso pela Viação Águia Branca, ele apresentou a palestra “Qualidade do Sono e seus Impactos na Segurança de Trânsito”.

Barros falou sobre a importância do sono e de como cada um reage de forma diferente a ele, da alteração de comportamento que ele provoca, abordou, ainda, a dinâmica do programa desenvolvido na Águia Branca, associou casos de labirintite à privação do sono e usou todas essas informações para justificar a importância que todo motorista – não apenas o profissional – deve ter com relação a isso.

Inovação e tecnologia foi outro assunto debatido no evento da Fetransportes. E o convidado para palestra sobre o tema foi o Coordenador de Transporte Senior da Raízen Combustíveis, Tibério Pereira, que liderou a implantação do projeto de instalação de câmeras nos caminhões da empresa, que representa um salto de inovação no uso de tecnologia e processos de gestão das transportadoras contratadas.

O case de sucesso, Tecnologia e Inovação: Uso de Câmeras em Caminhões Pode Trazer Benefícios ao Transporte Rodoviário no País, está diretamente ligado à prevenção e para implantação, segundo Pereira, teve apoio de transportadoras parceiras.

Os mais de três mil caminhões que prestam serviços à empresa do setor energético criada a partir da junção de parte dos negócios da Shell e da Cosan possuem quatro câmeras – duas externas laterais e outras duas internas, uma diagonal apontando.para o motorista e outra filmando a frente da pista.

“Tivemos a ideia e falamos com as transportadoras parceiras, que ‘compraram’ o projeto, fizeram o investimento e adotaram as estratégias para trabalhar com seus motoristas. A gestão do transporte está cada vez mais on line, estamos conseguindo avançar em questões tecnológicas e isso é muito bom. Na Raízen, segurança é um valor que não se mexe. Atualmente, só opera conosco o caminhão que tiver as câmeras instaladas”, ressalta.

Tombamento de caminhões, problema nacional

Não bastassem os altos números de acidentes registrados Brasil afora, é preciso  conviver com outro problema nacional – o tombamento de caminhões. O palestrante convidado para falar sobre esse tema foi o engenheiro Paulo César Gottlieb, que tratou sobre a dinâmica de tombamento de veículos em rodovias e a seguir ainda apresentou os procedimentos para implantação de um Programa de Segurança Viária Classe Mundial.

Tombamento, segundo Gottlieb, é um dos acidentes mais comuns e que traz consequências mais graves. “Quando o motorista exagera na velocidade em um carro, primeiro canta os pneus depois derrapa, e se encontrar algum obstáculo (meio-fio, buraco), pode tombar. Caminhão carregado é diferente: sempre tomba antes de derrapar. O motorista de caminhão não pode errar na velocidade. Se ele errar: tomba”, explicou.

Na segunda palestra, o engenheiro deixou claro que o caminho para vencer os graves problemas da segurança viária passam por pesquisa, dados e estatística, itens que, como o próprio Gottlieb ressaltou, “são uma carência no Brasil”.

Considerada a ISO da segurança viária, a ISO 39001 foi publicada em outubro de 2012. Seu objetivo é especificar os requisitos para um sistema de gestão que permita a uma organização que interage com o sistema viário, reduzir mortes e ferimentos graves em acidentes de trânsito.

Para finalizar

O novo Supervisor do Conselho Regional do Sest Senat, Marco Antonio dos Santos Rocha, aproveitou o evento para apresentar ao público o Programa de Prevenção de Acidentes do Sest Senat, que envolve outros três subprogramas: o Transportando Saúde das Cidades, que leva atividades de saúde e bem-estar aos trabalhadores do setor no seu próprio local de trabalho; o Saúde nos Portos e o Marketing Social, projeto itinerante lançado agora em maio e que levará conscientização a trabalhadores e seus familiares a empresas, rodoviárias, aeroportos e portos, dentre outros locais.

O seminário foi encerrado com apresentação do consultor em Segurança de Trânsito da Fetransportes, André Cerqueira, que apresentou os próximos passos do trabalho iniciado naquela quinta. Além de criar um selo de segurança viária e um selo de certificação para as empresas do setor, já foi lançado o segundo seminário, que será realizado em setembro.

O 1º Seminário de Segurança de Trânsito foi uma realização da Fetransportes, teve patrocínio da Viação Águia Branca, Vix Logística, V1 – aplicativo de transporte do Grupo Águia Branca, Veltec, Sicoob, Tacom Projetos de Bilhetagem Inteligente, Sinales, Eco 101, GlobalSys, Atento, ItMaster e Motora Tecnologia, e apoio dos sindicatos filiados à Fetransportes – Setpes, Transcares, GVBus, Sindliqes, Sinfrevi, Sinfrenor e Sinfres.