Clésio Andrade: o transporte em pauta

Presidente da CNT dá entrevista à revista CNT Transporte Atual

O Brasil atravessa um dos seus períodos mais críticos, com uma grave crise econômica e instabilidade em diversos setores. Esse cenário tem afetado toda a sociedade. Com a atividade transportadora, não foi diferente. Houve queda de receita, redução de quadros de empregados e aumento de custos operacionais.

Na primeira edição de 2017 da revista CNT Transporte Atual, o presidente da Confederação Nacional do Transporte e dos Conselhos Nacionais do SEST e do SENAT, Clésio Andrade, defende os fortes investimentos em infraestrutura para reverter esse quadro. Em entrevista à reportagem, ele reconhece ações do governo do presidente Michel Temer para recuperar a economia, como a aprovação da PEC do teto dos gastos públicos e propostas de reformas estruturantes. Entretanto, chama a atenção para a necessidade de priorização da agenda do transporte.

Leia, a seguir, a primeira parte da entrevista de Clésio Andrade à revista CNT Transporte Atual.

Em 2016, tivemos o agravamento das crises econômica e política no Brasil, com aumento do desemprego, inflação, impeachment. De que forma o setor de transporte está sendo impactado?

Toda a economia do país está sendo impactada, seja no transporte, na indústria, no comércio e no turismo. As pessoas perderam renda. A última Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador, divulgada pela CNT, mostrou que mais de 60% das empresas de transporte tiveram redução de receita em 2016 e cerca de 75% tiveram aumento de custo operacional. Não foi um ano fácil, mas devemos considerar que a situação do país é consequência dos erros dos anos anteriores. A grave crise na economia e as péssimas condições de infraestrutura são resultado de poucos investimentos. O impeachment é consequência de uma má gestão e assim por diante.

O setor retomou a confiança no governo, esperando que os investimentos em infraestrutura de transporte sejam feitos?

A mudança de governo cria essa retomada de confiança. O governo anterior estava sem credibilidade, não conseguia ter acesso ao Congresso, não tinha condições de aprovar reformas nem de gerenciar. Qualquer alteração nesse quadro traria novos ares, e é isso que aconteceu com o governo Michel Temer. Entre os transportadores ouvidos na Sondagem da CNT, mais da metade aumentou a confiança na gestão econômica do governo federal.

Qual avaliação o senhor faz desses meses de novo governo?

Começam a surgir fatos concretos que nos fazem acreditar que estamos no caminho correto. A aprovação da PEC do limite dos gastos públicos é muito importante. O país entra efetivamente em uma linha de responsabilidade fiscal. Se vamos controlar, vamos criar receitas para investir. Vamos usar a receita para gastar melhor, com resultados mais efetivos. A partir daí, o que vai melhorar? Entendemos que há dois cenários. No primeiro, de curto prazo, acho que não muda muita coisa. Mas os novos ares vão continuar, e o país está se preparando para mudanças. Em um segundo momento, quando o PIB voltar a crescer, não tenho dúvidas de que o Brasil entrará num círculo virtuoso de desenvolvimento de, pelo menos, 20 anos.